terça-feira, 28 de julho de 2009

ÓRGÃOS, CERTEZAS E TANTAS OUTRAS COISAS

Peço desculpas por desvirtuar minha própria proposta e postar algo que não é um sonho dormido. Peço desculpas a mim mesmo, claro, pois além de ser o principal leitor e apreciador disso aqui – às vezes até mais como exercício que como algo a se dar valor – sou também uma das raras exceções na minha bounce rate, porque os outros raros não constituem exatamente uma legião de fiéis e idealistas seguidores e, por fim, porque na minha cabeça está tudo bem claro que são sonhos [não oníricos] que me colocaram assim, com essa vontade insaciável de estar no escuro macio da própria cama, quieto, e necessidade de me expressar. Expressar pra mim, como aquelas coisas que ganham mais peso se as dissermos, e isso é algo tão presente agora, sempre pensei que não fosse me ver às voltas com questões existenciais, abalos na estima... Não que verbalizar faça com que virem mais verdade, mas faz alguma diferença. Acho que isso é organizar o pensamento, buscar lógica, porque é da nossa natureza querer saber as causas, e quando não sabemos precisamos de alguma forma de consolo. Muitos agradecem com fé; cético pois empírico e prático, nesse momento agradeço Alan Kay e William Moggridge mesmo.

Nossa, o parágrafo anterior tem tudo que penso no momento, um mancebo de tantos ganchos. Vou vomitá-los como pílulas nem sempre conexas, de uma forma disforme, desregrada, pela primeira vez em vinte e seis anos, seis meses e vinte e oito dias. Porque só depois de vinte e seis anos, seis meses e vinte e oito dias [por sessenta e três minutos não vinte e nove] quis fazê-lo, e não é isso apenas para não ser outra coisa. Não, Witold, isso é pra ser assim. Penso em pão de centeio. Quando digo isso, estou pensando em forma, não fôrma [sic].

Peço desculpas pela extensão desse texto todo por extenso. Mas ele nem precisa ser lido, é uma escolha. Ele nem foi feito pra ser lido. Aliás, não foi feito pra VOCÊ ler.

• FALANDO SOZINHO

Pedir desculpas a mim mesmo é um símbolo muito forte de algo bem atual pra mim [quantos pra mim, quanto egocentrismo... ou quanta necessidade de se descobrir, quanta preocupação em ser um melhor ser, ou o ser que devo ser], que é esse monólogo intenso, incessante, essa latente condição de pensamento, de busca.

Tenho conversado muito comigo, e não foi só uma vez que me peguei fazendo caras e gestos pra ninguém. Acho normal.

Tenho falado sozinho. Admito. Agora mesmo estou falando sozinho. Falando sozinho porque não tenho para quem falar. Estou trancado dentro de mim mesmo, me trancaram pra dentro e levaram a chave. Falo sozinho porque você não está aqui pra me escutar.

Sozinho porque ainda assim tenho a necessidade de falar. Quero e preciso trocar, coisas me sobram. E quanto mais me sobra, mais pobre fico.

Monólogos são complicados, é preciso muita energia, carisma, força. Certa vez vi uma Joana d’Arc sozinha em imenso palco e desde então tanto admirei a atriz, Torloni, quanto a força de um monólogo. Não sei se o meu é assim, não o admiro tanto. Pra falar a verdade, não vejo a hora que acabe.

Mas sendo inevitável, só acaba quando de fato termina.

• ORGULHO

Tenho orgulho de não ter um orgulho exagerado, e acho ótimo quem sabe pedir desculpas. Eu não sei, peço demais.

• EXERCÍCIO

Se pela manhã nem sempre e por vezes quase nunca tenho disposição para sair correndo por aí, é só porque meu cérebro precisa de exercício.

Na verdade, todo o tempo tenho passado com uma enorme vontade de sair correndo por aí, por ali, pra puta que pariu. Acho que preciso mandar algo pra puta que pariu, pra casa do chapéu, mas agora não tenho nada nem ninguém que mereça. E como precisa ser de verdade, fica aqui constipado. Acho que preciso é ME MANDAR pra puta que pariu. Enquanto isso, só me aconselho toda hora a ir pra lá.

Bom, mas como dizia, isso aqui mesmo é um exercício de auto-conhecimento, desabafo cálido. Pretensioso egocêntrico, mas isso aqui não tem o menor valor pra ninguém nem aspira ter. Tem pra mim porque me faz bem, e se o faço é por necessidade. Quem conhece, sabe que evito o evitável. Evito até jantar.

De qualquer forma, tem funcionado. Tenho um pensamento cada vez mais forte, tanto mais forte quanto menos dogmático, mas ainda convicto apesar de em formação. Mais conseqüente, mais compreensivo e compreensível e racional e causa e efeito e maduro. Que não caia.

• CORTE SECO X CONVICÇÕES

Alguém já se deu conta que podemos deixar de ser o que éramos com a simplicidade e velocidade de um corte seco, sem efeitos nem transição?

Alguém me ensina a ter convicção como sempre tiveram “contra” mim? Admiro a capacidade de precisar de tempo. Tempo tenho muito, no entanto, então não fico desejando mais...

Por fim, conheço também gente que é igual a mim. E eu xingo essa gente quando agem como eu, mas só há pouco cheguei à conclusão de que xingo é a mim mesmo, a raiva que tenho é de ser assim, mas não me vejo de fora então me agrido mais com junkie-food que com palavras. Junkie-food sozinho, de preferência na mesma cadeira de sempre, afinal se canções são indissociáveis de sentimentos, locais também o são, então quanto menos locais lhe forem de auto-flagelo, tanto melhor, porque com esses locais vai ser impossível ter um encontro agradável de novo.

Fico triste, maníaco. Tenho mania de perseguição e não sei lidar com rejeições de todo tipo ainda. Caso desesperançado de não aceito não como resposta. Aceito vários, só os que não devo. E brigo com os que devia deixar pra lá. Isso já sei, mas preciso aceitar.

POR EXEMPLO: a gente deixa de ser pra alguém, a gente passa a ser ninguém assim. E tem a gente que passa bem na sua frente, tem a gente que vem na sua vida e só passa, e vai. Essa gente que passa e mexe com a gente, e gente como eu não reage bem a provocações.

E curioso, acho que minha primeira palavra foi não. Se não foi, foi ao menos a mais dita, e de longe. De perto também.

• MOLAS

Uma das coisas que mais me impressiona na vida é a resiliência. A gente demora e força muito pra esticar a mola, mas ela volta tão rápido e com tanta força ao estado inicial...

• PALAVRAS PREFERIDAS DO DIA

Malogrado. Resiliência.

• POR QUE AQUI?

Mais uma vez.

Outra.

Sonhei errado. Mais uma vez, sonhei.

Ainda bem que não é pecado, apenas pela expressão pois sou ateu egocêntrico – nenhuma crença é maior que eu.

Os sonhos simplesmente acontecem, e se não dermos muita atenção eles simplesmente somem.

O que somos nós senão sonhos?

O que será de alguém que não é sonho de outrém? Muito triste não ser sonhado.

Pago pelos meus sonhos, caro. Meu caro, como pago. Mas pago com gosto, pago porque acredito em sonhos, sempre serei sonhador e de tantos sonhos que sonhei errado, a chance de sonhar certo só aumenta. Matemática: estatística. Claro, verossímil se aceitar um mundo bonzinho onde todos têm vez. Nesse não acredito, mas acredito na minha vez.

Egoísmo.

• EGOÍSMO X NECESSIDADES PESSOAIS

Não me importam outros contextos. Já disse que escrevo pelo exercício e por um bem que busco atingir, me ajuda e gosto muito.

Então você, espertinho de plantão que busca falha em tudo que vê por aí, poderia me perguntar “ora, se é algo tão pessoal, por quê postar aqui?”. Primeiro de tudo porque isso aqui é meu, porque sou adulto e faço o que quiser. Segundo porque acho que todo texto, e acima disso todo SENTIMENTO tem o direito, ainda mais, tem a NECESSIDADE de existir.

Quanto ao texto, a matemática: análise combinatória cheia de magia, infinita.

• DISCURSO GENÉRICO X CONTEXTO

Como é interessante a questão do contexto. Quero dizer que tudo isso aqui é muito objetivo, esse monte de palavras tem um contexto bem específico e faz muito sentido para quem ele é familiar. Lendo assim, sem o background, posso parecer genérico, raso, niilista, com uma pequena crise existencial tão típica da nossa pós-modernidade psicanalisada e deprimida.

Ou posso soar reconfortante e até parecer adequado a outros contextos.

Pretensão.

• O TRABALHO ME DEVORA

Mais uma vez não aceitaram a minha fórmula de felicidade. Várias linhas, nenhuma aprovada. Parece que a vida passa por muitos diretores de criação, e estes muito mais exigentes, pois cuidam de uma só conta, um único job que precisa ser matador.

E não aceitaremos meias-ideias.

Será uma ideia completa, perfeita, ou será nada.

• UMA CERTEZA MAIS QUE DÚVIDA, MAS CADA UMA É TAMBÉM SEU OPOSTO

A certeza é que podemos estar muito certos de algo incerto ou até mesmo errado. A dúvida é se existe justiça em disparidades, discordâncias graves entre duas pessoas. A certeza é que não acreditamos num mundo regido e regado a justiça. A dúvida é como duas pessoas dentro de uma mesma situação e ao mesmo tempo podem se afetar de maneiras tão diferentes, acreditar em coisas tão diferentes e desacreditar. A certeza é que realidade é um conceito muito esquisito, pois real não combina com relatividade. Real é fato, mas é fato que existem pontos de vista.

• LUTA DE ÓRGÃOS

Ouço com as orelhas e os ouvidos o barulho de uma porta abrindo, vou sair pra dentro e vejo algo com olhos, e aí o coração me bate violento. Bate forte, na boca do estômago, que na ausência de um cérebro é quem denota todo o real sentido da vida e tempera as sensações.

O estômago é o órgão das certezas.

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