terça-feira, 14 de julho de 2009

FINNEGANS, SUICIDA

Uma vontade forte de sair, mas para dentro de algum lugar. Rua fria dois casacos, e o vento seco e o céu dessaturado por completo. Não havia uma pequena nuance de azul ou vermelho sequer. Isso era a parte boa.

Desejo de entrar num pub, cidade cheia de bares, um pub irlandês escuro e vazio, com cheiro de cerveja derramada e seca no balcão. Respaldar-se no encosto de uma poltrona velha de couro marrom, mas não rasgada. Envelhecida. Envelhecido era como se sentia, ou queria. Cidade sem alternativas. Tédio.

O teto sustentado por colunas grossas de madeira entalhada que no encontro com o alto das paredes segurava também a expressão de rostos fortes e quadrados, nem bravos nem condescendentes, apenas espectadores daquela [triste?] condição. Olhavam todos para baixo, onde os pobres pagãos faziam o que queriam. Guardavam-nos do dia, da noite, do tempo, só não os guardava do pensamento.

O mogno escuro do balcão. As escritas de canivete no mogno escuro do balcão. Corações flechas estrelas nomes.

Mal. Esperava que uma, apenas uma pessoa entrasse em contato, e isso o faria feliz por algum tempo de forma inexplicável. Não conversariam sobre nada, de fato, mas também não faltaria assunto. O telefone tocou mas não era, nem de longe, alguém com quem teria prazer em falar. Palavras engatinhariam desde a prega vocal e se arrastariam todo o caminho até a ponta da língua, num esforço sem precedentes, e então saltariam pálidas, afônicas. Não atendeu.

O seu nome e o dela. Qual era?

Qual era o fascínio? Ela era alguém especial, mas não sua! Era o alguém especial de outra pessoa. E o trabalho... pela manhã recapitulou e enumerou seus afazeres em vão, pois a chegada da tarde só trouxe mais vazio, nem sono! E ela não o via como gostaria.

E se entrasse lá, era lá que queria estar. Sabia onde era, mas a lembrança, o pensamento. Teria força para agüentar, fingir que nada acontecera ali antes? Impossível, estavam lá os nomes, as flechas... e viriam à tona outras e outras e o único bom pensamento não era assim tão bom, era mal de verdade, faria mal de verdade, ainda bem que não era verdade. Tinha medo da verdade, e da verdade os rostos não poderiam proteger seu corpo. Mas só pensava naquele ambiente escuro e naquela poltrona. Não tinha lareira, mas gostava de imaginar que sim, o cheiro da madeira... e os estalos! O fogo é mágico. Madeira e escuro, sombras dançantes.

Mas não tinha lareira, não iria! O pulso que não chegava a doer. Certeza que não poderia apertar mais, e nenhum tom de vermelho. Sono. Quente e frio, muito frio. Entre a parede e a morte. Não, a morte seria um presente, e isso não fazia parte do trato!

Mas Finnegans é Finnegans, o Inexorável.

- - - - - - - - - - - - -

No clima postagem casada, mais sobre suicídio aqui, outra dos PORNODOGS.

- - - - - - - - - - - - -

Nenhum comentário:

Postar um comentário