segunda-feira, 5 de outubro de 2009

MERGULHOS EM PISCINAS

Como todo bom sonho que se preza, é começo e toca o telefone. Um irmão – que tem na verdade artigo definido – chama, “vamos à praia”. Vamos.

Pego a bicicleta, pedalo a bicicleta. No meio do caminho que parece a serra entre Cambury e Maresias, uma casa de avó, um primo e um ex-amigo e um xerife, que cachorro! Xerife me observa apreensivo, ao que me escuta a voz e abana o rabo violentamente de gangrena, lança-me uma lambida que me põe submerso em uma piscina viscosa, à beira do intransponível.

Luto para sair de dentro dessa montanha pegajosa. Escalo a montanha e pedalo minhas duas bicicletas até quase o cume. Jogo as duas bicicletas para o alto e me agarro à terra com os dedos em carne viva com a força de quem jazia vivo em uma cova, agarro-me como à minha própria vida e como se despencar essa montanha fosse cair de um desfiladeiro, como se fosse eutanásia, a morte certa e autodeterminada.

A subida tinha sido difícil, pedalava com toda a força até não ter mais. Me acompanhavam, enquanto consegui, dois ciclistas de speed, um cabeludo e um tatuado, mas ao que minhas pernas fraquejaram eles se distanciaram e sumiram da vista.

Suo muito e não estou mais melecado, babado. Molhado, no entanto, estou de suor. Então imagine que me arrastar por esse íngreme de terra criou lama, kiddo. Quando chego enfim ao topo sou pura lama, mas é casa com piscina e me jogo pra dentro dela.

Que desagradável surpresa, pulei dentro de uma piscina de lama movediça.

Ao que movo, me complico. Alguém cabeludo e de pernas lisas, sem pelos, defende na beirada o design representado ali. Percebo que do fundo da lama vem intensa luz cuja forma contorna a silhueta de uma sola de calçado esportivo. A luz varre em scan como a de uma fotocopiadora. Percebo também que o lado raso da piscina é oque tem muros mais altos, na verdade parece que a lama não se nivela, mas é íngreme, se não tanto quanto, mais que a subida da bicicleta.

O cabeludo de pernas lisas tem barba e não é o mesmo da bicicleta. Rememora algo indefinível e desagradável. Agora conta sobre quando um banco nacional muito poderoso fez oferta para se utilizar desse design tão genuinamente brasileiro e tão eficientemente executado. Não entendo como o banco poderia se apropriar disso para seu próprio proveito, mas mesmo assim folgo em saber que a tentativa foi frustrada.

Agora que entendo o funcionamento da piscina já não temo me afogar, pelo contrário, me divirto e passeio por ela, deixo a corrente me levar com a ciência de que sair leva apenas a energia de um salto. Salto ao ouvir um CD mono tocar.

Nesse meio tempo já estou na praia, e a piscina fica ao pé do morro. Subo enlameado os degraus, e no último já estou completamente limpo como se fosse recoberto de teflon. Tiro o disco o plugo um iPod qualquer, uma canção qualquer que não aquela, que não a sua nem de ninguém, meio cigana, soturna e rouca e boa. A dona do CD de antes pergunta sobre ele. Digo que não o toquei e que não o quero ouvir tocar nunca mais, ela cede e pede que ao menos o guarde em um porta-CD’s de vinil.

Enquanto guardo, ela me alcança uma toalha. Enquanto me seco, ela me conta uma história. “Sabe quando a toalha tem uns poucos porcento de material sintético e em vez de secar, parecem apenas espalhar a água pela superfície do corpo? Pois então, um gringo argentino inventou de esfregá-las sobre roupas para passar e ficou milionário: as toalhas perdem a plasticidade e passam a secar-nos com eficiência, assim como essa toalha faz com você, e as roupas ganham esse antiaderente que as torna à prova de queimaduras. Passe duas vezes e terá um traje antichamas.”

Impressionado, penso igualzinho o seu pensamento de outras vezes, “é uma ideia como essa que precisava ter, algo simples e que me rendesse a vida”. Tenho certeza de que só pensei, mas o irmão me consola como tivesse ouvido tudo, “por enquanto chega de delírios de maratona, é normal com tantos quilômetros de subidas e descidas, mas por enquanto descansa, um dia vai ter sua ideia, por enquanto descansa e dá um pulo na piscina. Vai te fazer bem.”

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