terça-feira, 12 de abril de 2011

Trois Couleurs

A Intensidade é Vermelha

Uma ameaça de bomba no metrô. Corre corre geral, como o cheiro do leão que errou na tática e se entregou às zebras por estar a favor do vento. Aqui, todos estão contra o tempo. Crianças e idosos por último. Após alguns instantes, uma real, mas pequena explosão na plataforma não mata ninguém, a não ser um simples professor de física, que se vai de susto. Que deus [deus?] o tenha.

Uma mulher linda, esguia e francesa - ou marroquina - pisa seu salto plataforma adentro enquanto o alarme e os alto-falantes insistem que não, que saiam todos e que freiem as locomotivas. Quando o primeiro vagão finalmente estaciona, ela entra friamente, tapa com a ponta do indicador a boca assustada do maquinista, ou seja lá como se chama o motorista de um metrô, sua unha descascada de longe é também sensual, e o provoca com o olhar de baixo para cima. Talvez você saiba do que estou falando.

Ele não consegue relaxar, este homem está tão tendo que não haveria de conseguir escapar. Fazem amor ou sexo, depende do ponto de vista. Todos percebem que de terrorista ela não tinha nada, mas apenas uma mulher que ama demais anônima.


A Brutalidade é Amarela

Uma vila qualquer, remanescente da colonização operária. Vizinhança cordial, exceto pela última casa à esquerda, sempre a esquerda. "Sê gauche na vida".

Uma cadela apelidada Chiquinha é de todos e de ninguém, especialmente não é dele, Carlos. Carlos é manco e ranzinza. Carlos espanca sua prostituta, porque aquilo não se pode chamar esposa sob risco de ofender todas as demais que ocupem tal posto, espanca sua prostituta a noite toda, chama-a por todos os nomes que não o dela nem meu amor. Chama-a de cadela com muito rancor. Diz que é maculada demais para carregar em seu ventre, dar à luz e de mamar a um filho seu, cadela.

Um estampido seco, um latido.

Pela manhã, Chiquinha padece. Quando cada um morador aparece, a cena a todos compadece. Todos os filhotes estão cobertos com curry.


A Incredulidade é Verde

O inimigo invisível da humanidade é ela mesma. Sua ciência e sabedoria e técnica de guerra nos levou todos ao extremo. O ano é 2011, o fim pode ser ou não iminente.

Uma força indefinida e megamente poluente destrói aos poucos a única fonte de água corrente limpa daquele velho e seco continente. Uma ameaça tóxica verde, meio marrom e meio nojenta, totalmente nojenta por ser capitalista, toma conta de lá. Ninguém quer saber de justiça, quero minha parte em dinheiro. Água e segurança são para quem pode pagar.

Nossa agente pacífica desfere golpes firmes, daqueles capazes de tornar o mundo um lugar melhor, e apesar de estar sozinha em seus sonhos, e inclusive no meu nesse momento, encontra em seu cérebro a brilhante solução para desativar a tal bomba contaminadora da nascente.

Zap. Tchum. Swoooosh. Pow. Edgar Alan Poe e até o clássico IÁ!

Histórias de ficção científica não são meu forte, assim como preparar doces na cozinha, mas essa heroína salvou o mundo e está disposta a fazê-lo novamente. Deixa a oportunidade e a causa certa aparecerem, pra você ver...

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Apesar de Kieslowski estar evidente, sinto um pouco de Kurosawa. E claro, um monte de porcaria, porque de fato esses caras e eu estamos a muito mais que seis graus de separação.


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